Dulcineia (Matilde e André)

Eu tenho duas histórias de amamentação muito diferentes. Tive uma filha em 1997 – a Matilde − que mamou até aos 2 meses e meio que agora tem um irmão – o André − de um ano que ainda mama.

Da primeira vez abandonei a amamentação porque a Matilde engordou pouco, mostrava alguns sinais de enfraquecimento e eu sentia as mamas mais vazias e por isso convenci-me e convenceram-me que o meu leite já não a estava a alimentar. Ela foi sempre uma bebé muito cheia de energia, que segurava a cabeça com muita facilidade e no 3º mês tombava a cabeça para o lado e provavelmente chorava mais, mas sinceramente já não me recordo.

Foi uma altura muito difícil para mim, pois fui mãe muito jovem, era inexperiente e deixei-me levar pela opinião da família e do médico que não se opôs à introdução do LA. Foi com muita mágoa que abandonei a amamentação, foi com muita mágoa que vi outras pessoas a alimentarem a minha filha tão pequena com um biberão enorme. Eu nunca tive uma dor, uma mastite, uma greta e o leite secou ao fim de 15 dias sem nunca o peito ter endurecido. Fiquei convencida que tinha de facto pouco leite, até porque eu vivia, na altura já com uma grave depressão. Vivia com muito stress que ao que sei é um grande inimigo das mães que amamentam.

Quando decidi ter o André decidi que ia amamentá-lo “custasse o que custasse”, por isso passei a gravidez a ler sobre amamentação e propriedades do LM. Convenci-me que a minha derrota tinha sido culpa minha e decidi que não ia acontecer outra vez. Li sobre os “mitos” do LM e sobre as dificuldades que as mães enfrentam. Pesquisei incansavelmente na internet, em fóruns, sites e blogs. Encontrei o blog “Perfeito, perfeito é mamar ao peito” bem como muitos outros.

Tive aulas de PPP onde a enfermeira me disse que tinha sido uma estupidez abandonar a amamentação quando ela já estava estabelecida. Compreendi que tinha as mamas mais vazias, no 3º mês, porque é assim e é natural. A ajuda da enfermeira foi muito importante bem como todas as informações que recolhi na internet, nomeadamente o Manual Prático do Aleitamento. Ela aconselhou-nos a comprar uma bomba e assim fiz. Quem quer dar LA compra biberões, quem quer dar LM compra uma bomba. Ajuda-nos psicologicamente a aceitar a amamentação.

O André nasceu, de parto normal, como a irmã e foi logo amamentado e assim continuou. A descida do leite deu-se com naturalidade, novamente não tive nenhum problema. Mas também trabalhei para não ter nenhum problema: massajava a mama enquanto dava de mamar, tirava algum excesso de leite quando tinha dor, tomava banhos de água quente para o leite fluir melhor e tinha paciência.

Tirei muito leite com a bomba, que por vezes dava ao André no fim do dia com um biberão. Até que dei conta que era o que ele queria – “facilitismos” – e abandonei o biberão. Deitei muito leite fora.

O 3º mês foi o mais complicado pois ele engordou 500 grs, muito pouco comparado com as 2400 que ganhou nos dois primeiros meses. Estava mal habituada! Não desisti, confiei no meu leite, confiei em mim, apesar das más recordações e da derrota anterior. O 3º mês passou e a partir daí tudo tem corrido bem.

O André não é um bebé gordo, engorda 200 grs por mês desde os 6 meses, o que já me valeu um raspanete da médica de família. Na opinião dela devia introduzir LA aos 11 meses, quando foi da consulta. Disse-lhe que não. Disse-lhe que vou amamentá-lo o maior tempo possível e mostrei-me irredutível. Ela não teve outro remédio senão aceitar.

Posso dizer que a relação que tenho com o André é bem diferente daquela que tive com a Matilde. Ama-se ambos os filhos mas aquele que é amamentado recebe um carinho especial. A relação é diferente porque a amamentação é um grande factor de união entre mãe e filha/o.

Acho que todas as mães deveriam ter a oportunidade de saber como é maravilhoso amamentar uma criança e deveriam reflectir bem quando pensam em desistir pois podem vir a arrepender-se e depois é tarde de mais.